segunda-feira, 24 de junho de 2013

O TEMOR DO SALMISTA









SENHOR, eu estou com medo. Medo de orar a ti, pois, quando elevo a minha oração ao Céu, algo de muito ruim me acontece. É como se o Senhor não estivesse se agradando da minha prece. Mas quando te peço algo, o mal sempre me persegue fazendo com que eu não realize aquilo que mais almejo fazer. A injustiça deste Mundo prevalece e eu torno a perguntar: Onde está o bem? Porque as minhas orações não são respondidas? E porque as pessoas que me prejudicam saem livres da culpa enquanto eu tenho que me submeter a tais sofrimentos? Onde estavas tu, quando eu mais clamei por tua ajuda? Eu sei Senhor, que errei; reconheço que tenho procedido mal, mas tenho ó Deus, suportado até onde as minhas forças me permitem resistir. Mas te oro sempre para que os meus inimigos se colocassem bem para longe de mim, mas o que tu fizestes? Me tirastes do lugar de onde eu estava e deixastes o meu inimigo prevalecer sobre mim. Como quer que eu creia em ti, se não moves a tua mão para executar a tua justiça? Com que intenção me tirastes de minha Casa? Foi para padecer sem razão? Eu estou cansado Senhor, de ficar contemplando a injustiça deste Mundo, de ser o último a ser lembrado, de deixar tudo para depois, e de ficar esperando por algo que sei que nunca vai acontecer, por mais que eu peça.

Quero ter o meu lugar, o meu canto; desejo ter a minha Casa que os meus pais quando abriram suas bocas, me prometeram em dar-me. Eu estou cercado por gente que me ilude com promessas que elas mesmas não conseguem cumprir. O engano impera em minha vida, e o que ganhei confiando no Senhor? Já pedi muitas vezes a tua ajuda e me enviastes a mim, as piores pessoas para me aconselhar. Fizestes com que minha mãe me trouxesse frustração quando indicou um ancião para me instruir na verdade.

Hoje eu sou um homem que peleja para acreditar que tudo isto não veio por tua ordem, porque estou cansado de acreditar naquilo que sucede a outros, mas não acontece a mim.

Tu, ó Deus, dissestes que tenho mais valor que as aves do Céu, mas parece que não sou tão importante, nem para ti, e nem tão pouco para os homens. Os anciãos de tua Casa fazem o que não devem, mas tu permites que os tais se engrandeçam por suas sabedorias e nunca sejam repreendidos pelos pecados que cometem. Há muitas outras coisas que eu detesto, e já que me conheces tão bem como dizes, não é preciso que peça a ti, algo que já sabes antes de abrir a minha boca.

Vago é as escrituras e não há nada nela que possa aplicá-las em minha vida. Eu estou perdendo a vontade de freqüentar a tua Casa, pois, parece-me que há mais joio do que trigo. Nada muda, nenhum arrependimento existe, e não há sequer um que reconheça o seu erro. Se eu tenho rancor, pior são eles que são orgulhosos que pensam serem muito sábios, mas que na verdade não sabem de coisa nenhuma.

Os meus inimigos meu Deus, têm zombado até do teu nome, mas nada fazes para puni-los. Por isso que não creio que as minhas palavras ou qualquer coisa que eu diga faça efeito. Quero Senhor, acreditar em ti, que tu me respondes quando te chamo, mas eu estou desiludido e se não há quem neste Mundo possa confiar, em quem confiarei? Com sinceridade Senhor, não sei quando é o Seu tempo. Por isso que tanto peço que fales a mim, do mesmo modo que falastes aos Patriarcas e Profetas; pois, que tamanho de pecado é este que é capaz de impedir que eu escute a tua voz? Será que eles tiveram menos pecados do que esta geração? Creio que não sou tão semelhante a ti, pois, para um filho não puder ouvir a voz do próprio Pai, teria sido melhor não tê-LO conhecido. Vivo entre os homens, e não há nada que diferencie deles de ti; nem anjos, nem querubins, nem tão pouco Emanuel tem se colocado no meu caminho para me dizer com voz mansa e suave o que devo fazer.

Tu, me conheces? Não quero saber como formastes isto ou aquilo; quero saber se o Senhor me conhece tão bem como tens dito. Como dizes que tu és o meu Deus se nem ao menos posso conhecer a tua vontade para minha vida? Os meus irmãos me pedem tudo porque sabem que tenho condições de atendê-los, mas será que apesar de em parte me dizerem o motivo, me esclarecem o que hão de fazer para recompensar-me? Meu pai só quer saber o que mais interessa a ele, mas sempre me trata como se eu fosse nada. Alguns de fora, acham que eu sou deus, que não sinto dor, não sofro, não choro, e que nem tão pouco sinto a necessidade de ser ouvido, pois tudo que digo são tão somente tolices.

Diante de tudo isto meu Deus, porque te calas? E porque quanto mais preciso do Senhor para responder aos meus acusadores tu preferes o silêncio? Cansado estou de ouvir vozes de homens; quero ouvir a tua voz meu Senhor Deus. Mas se eu não puder te ouvir, dá-me a certeza de que tu, estás agindo em minha vida, pois, ela depende muito mais de sentir a tua mão do que ouvir vozes alheias.

Eu sei Senhor, que tenho reclamado muito e dito que não mais elevaria a minha oração a quem não mais poderia acreditar, mas peço, só esta vez, mude minha vida, ressuscita os meus desejos e não me deixe sem resposta, para que eu saiba que tu estás comigo aonde quer que eu vá.

Sinto-me só Senhor, num vasto Mundo de desconhecidos. Só vejo homens estranhos na minha frente e nem tão pouco reconheço mais aos que dantes se colocaram em meu caminho. Eu estou ficando velho e a cada dia que se passa a solidão me aperta. Tenho tanta frustração que minha tristeza se torna profunda de mais para que olhe tudo ao meu redor com alegria.

Alguém já me perguntou se eu sou feliz, e como resposta disse que, sim, eu sou feliz porque tenho a ti como o meu Deus. Mas na verdade, me conheces bem melhor do que eu mesmo que não estou feliz. Pois, quero fazer o que mais gosto e não o que me dá desprazer. E já pedi isto muitas vezes a ti, mas nunca fui atendido.

Na verdade, tenho nojo de tudo aquilo que me entristece. Não há um homem sequer que não veja neles a falsidade, e não há hipocrisia tão grande que se esconda entre um sorriso fingido. E até que me convençam a mim, do contrário, permanecerei firme naquilo que para mim, está errado.

Não quero fazer pactos com demônios nem tão pouco me ajuntar ao conselho dos ímpios. Poderia o Senhor, ter me deixado quieto no meu canto. Porque me chamou? Com que propósito me escolhestes? Se tens chamado mais os homens cultos deste Mundo para pregar o teu nome, porque me conclamastes? O que vistes em mim? Porque Senhor, me chamastes? Quem dera fosse eu importante em tua Casa, então os que ministram nela me ouviriam com atenção e não confundiriam as minhas palavras.

Perante tudo isto, sinto medo de pedir a ti qualquer coisa e esse temor não sarará enquanto estiveres quieto diante daqueles que me injuriam sem razão.

Desejo Senhor, te ouvir, e fazer a tua vontade. Porque nem anjos descem do Céu para me auxiliar, pois, não consigo entender os teus desígnios. Tenho tédio desta vida onde os miseráveis são reis e os inocentes são súditos. Há muita gente morrendo, e a maior parte deles são humildes. Mas os cruéis e perversos encontram-se vivos e ceifam a vida de outros que não mereciam morrer. Se na verdade o bem prevalece sobre o mal, porque os homens que matam aos outros saem livres da culpa? Melhor seria que eu estivesse no meu lugar quieto e sem perturbar ninguém. Mas tu, Senhor, me chamastes; me chamastes para que? Não quero ser semelhante aos que não fazem nada por ti, e quando fazem se levantam dentre a Congregação para vigiarem quem estão transgredindo Sua Santa Lei. E são esses que têm freqüentado a tua Casa e que exercem posições elevadas no Santuário. São esses que tu, ó Deus, tem valorizado? Será que não tenho sabedoria o suficiente para entender o que é certo ou errado? Se é assim que tu procedes, não deveria ter expulsado os vendedores da frente do Templo, pois, os que hoje estão na tua Casa, tem feito pior que eles e não tens os expulsado.

A minha oração está repleta de dúvidas quando elevo uma prece a ti, e nenhuma delas fora respondidas. E triste está a minha alma porque sei que quando este mundo perecer ainda viverei e alcançarei meus cabelos brancos e não haverá quem me sepulte quando porventura for recolhido. LOUVEM A DEUS!





PABLO DUARTE