domingo, 4 de junho de 2017

DESGOSTO DA VIDA





QUERIA TER me tornado um beberrão, e ficar vagueando pelo mundo sem destino certo. Queria ficar sentado no chão com os meus trapos e com a minha mão estendida à espera que alguém me desse em troca algumas moedas. Desejaria de não ser mais um incômodo para os que a mim, me cercam. Gostaria de me esconder dos meus irmãos e ficar longe dos meus pais. Almejaria estar distante daqueles que me acolheram a mim, em sua casa, e prosseguir na minha vida de solidão. Pois, seria uma honra para mim se Deus me esquecesse e eu esquecesse de Deus. Porque eu me cansei da vida, a mesma vida que tem feito pactos com a morte e que pelo seu poder e misericórdia, me permitiu viver. Porque se quisesse, ela reteria para Si, o fôlego que me sustenta, e então não deixaria saudades e ninguém sentiria falta da minha presença. A minha ausência seria muito melhor e os que desejaram a minha queda, saltariam de alegria por terem me vencido. Como está escrito: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque ali se vê o fim de todos os homens”...¹ 
Portanto, desejaria passar o resto dos meus dias vagueando pelo Mundo e dormir por debaixo de um vazio Firmamento. 

A minha casa, seria em todo o lugar, onde os meus pés fossem dignos de entrar, e os meus mulambos seriam os travesseiros pelos quais estariam dentro da minha grande bolsa. Me banharia num rio cristalino e limpo como um espelho e desfrutaria do sossego do que as promessas que os homens nunca cumpririam e que jamais os farão. 

Comeria dos restos que até um cão deixaria; olharia para o Céu com grande desprezo e contemplaria a terra com choro. Ninguém por mais santo que fosse, seria capaz de entender o íntimo de minha alma. Nenhum dos homens compreenderiam os meus lamentos e abririam suas bocas para fazerem más interpretações de tudo aquilo que penso. Quem em sua grande sabedoria poderá decifrar o meu íntimo? E quem me abraçou quando chorava para sair de um quarto apertado e que ninguém me ouviu? Digo-vos uma verdade: Os Ministros de Deus deixaram-me trancado dentro do quarto de minha mãe, que segundo o seu desespero, arrombaram-na porque ali estava me faltando o ar. Se Deus entendesse mais do que eu, os meus temores, logo chegaria em meu socorro. Mas o Senhor permitiu que a minha vida fosse desprezível e quase me deixou imobilizado sem puder fazer nada do que gostaria. Tornou-me num homem inapto e dependente dos que se aproveitam da minha condição para praticar maldades. Se bem sei que o Senhor habita nos Céus, porque não me deixou viver como os homens vivem? Será que eu não seria tão humilde ao ponto de não reconhecê-LO como Deus e de considerar a mim mesmo como um miserável? Que sentido teria essa incoerência? Por isso que tenho desgosto da vida, pois, ela mesma tem me traído todo dia. Tento aceitar-me como eu sou, mas o meu aleijo não me deixa mentir senão a considerar a verdade. Se fosse assim, reclamaria de mim, e aí sim, ninguém mais me suportaria. Acabaria com os meus dias assassinando-o de fome e de sede. Rasgaria com grande ódio a minha roupa como os antigos faziam em sinal de humilhação. Isso tudo faria para chamar a atenção de Deus para mim, para vê se olharia para a terra desde os Céus e se lembrasse de mim. 

Mas o que é isso diante do Senhor? De nada adiantaria o meu flagelo para inclinar os olhos de Deus para mim. Passaria por tolo ao tentar persoadí-LO a me socorrer. Seria visto como um louco em minha loucura; e como um doido em minhas doidices. Já muitas vezes tentei dar cabo de mim mesmo. Mas não me deixaram morrer. Quiseram que eu permanecesse vivo para ser motivo de deboche para os outros. Porque melhor teria sido se tivessem me esquecido e não mais ter lembrado do meu nome. Mas depois de tudo isso, uma serva do Senhor me disse: “Ouvi rumores que o rei cairá do seu trono”. Então pensei: O Deus do Universo ouviu-me e não considerou os meus pecados. Porque Deus é o que atende as minhas orações para sempre e por toda a eternidade. LOUVEM A DEUS!!!




1) Eclesiastes 7:2





PABLO DUARTE

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