quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Festa






DORMIRIA FELIZ se eu não tivesse me afastado do meu anjo para ir a uma Ceia cujo engano reside e onde a farsa impera. Pois, tendo deixado o Céu fui até ao inferno, mas quando voltei ao meu lugar, achava-me em profundo pranto; como está escrito: “Tenho-me tornado como um estranho para com os meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe”.¹ De madrugada, os meus olhos transbordavam em lágrimas e assim chorava em silêncio.  Contemplava a mesa que se achava vazia, cheia de pratos com as sobras do regozijo. Imaginava então, as mesmas almas que ali estiveram alegrando-se e cantando hinos de louvor a Deus. O meu espírito se perturbava ao olhar o quanto tinha perdido ao ter trocado o Céu por uma Casa cheia de soberbos; como está escrito: “Melhor é a comida de hortaliça, onde há amor, do que o boi gordo, e com ele o ódio”.² Passei pouco tempo olhando para aquela mesa, sabendo que não poderia fazer regressar aqueles que antes de minha chegada estiveram ali. Achava-me na Casa dos meus pais e com tristeza alegrava-me com os meus irmãos. Uma dor tomava conta de mim; como se não pudesse repreendê-los, permaneci com o meu íntimo encolhido perante o orgulho dos que me ameaçavam em prender-me se em mansidão eu não andasse; como está escrito: “Os meus amigos e os meus propínquos afastam-se de minha chaga; e os meus parentes se põem em distância”.³ Tudo isto me veio a minha mente, quando contemplava aquela mesa vazia. A dor que sentia me fazia levantar da cama; e cada vez que deitava o meu corpo no leito, o tormento da minha agonia me erguia como se o ar me faltasse. Pois, ninguém, nem mesmo o meu anjo que estava comigo podia me socorrer.

Mas eu louvo ao meu Deus por ter me mostrado que os bons sempre triunfarão perante os maus. Porque ao permanecer eu na companhia daqueles que me amam, tive então a alegria de regozijar-me de novo com eles. Como está escrito: “Levou-me à sala do banquete, e o seu estandarte em mim era o amor”.4 Como não render graças a Deus por estas coisas? Pois, o Salmista assim disse: “Porque, quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá”. 5 Disse um Sábio: “Os próprios pais não são responsáveis, ainda que a seu pé seus filhos enveredem pelo caminho do mal, uma vez que só lhes dêem bons exemplos”. 6

O que poderia então encontrar dentro da Casa de meus pais? Alegria? Não, senão somente fingimentos. Porque eles me vêem como um louco que faz doidices e nunca como um homem. Eles querem decidir por mim, como se eu nada pensasse. Mas eu sei que Deus está olhando a minha causa e com justiça dará a sentença contra aqueles que de tolo me fizeram. O Senhor cuida de mim e do Seu trono julgará com retidão aos que a mim me trouxeram prejuízo. LOUVEM A DEUS!!!



1) Salmos 69:8

2) Provérbios 15:17

3) Salmos 38:11

4) Catares 2:4

5) Salmos 27:10

6) Os Pensadores: Sócrates pág: 90





PABLO DUARTE

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