Um Lugar Para Chorar a Dor

E Esconder as Lágrimas

QUERIA um lugar para chorar a minha dor; desejaria ter algo para que pudesse esconder as minhas lágrimas e enxugar com as minhas tristezas as minhas mágoas.

Como gostaria que as pessoas contemplassem o ardor que é o meu trabalho e o quanto tenho me esforçado no serviço. Mas nada disso reconhecem, porque com tirania ordenam eles sem piedade. Porque se os homens vissem como se acha o meu íntimo, cessaria a sua acusação contra mim, ou continuariam me tratando como o mais vil verme.

Pobre alma! E que miserável espírito que eu tenho! Porque sabendo de que nada sou, ainda assim me esforço para mostrar que eu sou capaz de ir além do meu limite. Porque se o meu Deus é grande, por quê não mostrar aos homens a quem pertenço? Fico no terceiro Céu onde posso ver o trono do meu Deus e ali reflito sobre as Suas Maravilhas. E sozinho olho para o Firmamento e elevo ao meu Deus uma Oração. Contemplo o horizonte onde os meus olhos não alcançam, mas que mesmo assim posso ver a grandeza do meu Criador e de Sua criação. Esvazio-me de mim, e conto ao Senhor sobre todos os meus temores.

Olho ao mesmo tempo para os jovens que correm felizes, e passo a recordar de momentos tristes que em outrora a mim me aconteceu. E quando olho para eles, lembro-me de que não tive a mesma alegria que eles naquele instante estavam tendo. Volto o meu olhar para o Céu, onde habita o meu Deus a quem adoro. Com o meu espírito medito naquilo que me faz bem, e em tudo que vejo posso então tirar as minhas próprias conclusões. Vendo a extensão do Céu e quão pequeno é os homens, disse: Porque devo eu temer aos homens? Não é o meu Deus maior que eles? Eles se reduzem ao pó enquanto o meu Deus subsiste de eternidade a eternidade. Todas as gerações até aqueles que conheceram e aos que ainda conhecerão ao Senhor, louvaram e louvarão ao Altíssimo Deus do Universo.

Não há nada que me convença a mim, a deixar o meu Deus, pois, Ele já me deu muitos motivos para isso. Quando menino prostrava-me perante imagens e assim era o meu costume. Honrava-os como se fosse o próprio Deus; mas a minha mãe apontando para cima disse: O NOSSO DEUS ESTÁ NOS CÉUS. E vendo ela esmiuçar aquele ídolo passei então a fazer minhas preces ao Deus Vivo, como está escrito: “Ora Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para Ele vivem todos”.¹

Disse um Sábio: “É certo que muitas coisas más são pelos maus praticadas contra a vontade de Deus. Mas tão grande é a Sua Sabedoria e tamanha é a Sua virtude que tudo, mesmo o que parece contrário à Sua vontade, tende para os fins e resultados que Ele antecipadamente viu como bons e justos”.² Portanto, o meu Deus perdoou-me, pois, na minha inocência não sabia que, o que dantes havia praticado tinha sido uma abominação; e se aquilo que fora mau antes o Senhor tinha visto como bom, certo eu estou de que Ele viu a minha sinceridade e de modo algum me rejeitou. E assim como tantos se aproximaram do Senhor, da mesma forma eu me aproximei d’Ele e não temi em comparecer ante a Sua presença.Como está escrito: “Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação meu coração se alegrará”.³ Mas apesar de tudo isto, a minha alma permanece triste; porque vejo que enquanto outros se regozijam, eu que tenho Deus comigo não sou feliz. Mas essa tristeza não é por causa do Senhor, mas por causa daqueles que vivem para tão somente perturbar o meu espírito e atormentar minha alma. Porque os meus amigos fugiram e nunca mais eu os vi. Neste Mundo vivo só, pois, nem sequer buscam saber como estou. Os meus Salmos parecem não agradar a ninguém, mesmo porque o que escrevo não os agrada. Muitos desejam ouvir mensagens de amor, mas quando as advertências são pronunciadas, escondem-se para não escutar as verdades. Por isso queria esconder-me e chorar as muitas mágoas que consomem minha alma e o que ganho com isto? O que vale ser santo e não ter ninguém? Se isto está vos confundindo, digo que mais confuso eu mesmo estou. Porque o bem que desejo, esse nunca vem; mas o mal que nunca quero esse me persegue até fazer com que o meu espírito deixe a minha alma e expire a vida que Deus me concede.

Mas eu não posso deixar o meu Deus ainda que me forcem a renunciar a meu Senhor. Porque ao chorar sinto paz, e ao sentir paz o Senhor se manifesta com terno amor e a Sua compaixão dura para sempre, e sempre adorarei o meu Deus.LOUVEM A DEUS!!!

1) São Lucas 20:38

2) Santo Agostinho – Fonte: Agostinho de A a Z pág. 74

3) Salmos 13:5

                             PABLO DUARTE